INTRODUÇÃO
Considero-me uma pessoa bem informada mas, pelo visto, muito menos do
que imaginava.
Tendo a mim como parâmetro, provavelmente - a não ser os que são
médicos, também desconhecem o narrado corajosamente pelo médico
intensivista Milton Pires.
É verdade que antes de mim, jornalistas ( Políbio Braga, Ricardo Setti),
blogueiros (Orlando Tambosi, Rodrigo Constantino) já postaram este artigo – o qual
somente hoje li. Posso, portanto, imaginar que muitos dos meus leitores também
o desconheciam.
Grande parte do que faço, sob muitos aspectos, pode ser considerado como
sendo de 'utilidade pública'.
Sinto-me, pois, na obrigação de divulgar este artigo para que mais pessoas
venham a ter conhecimento da real gravidade da situação.
Aliás, a SAÚDE no Brasil está um caos que só aumenta com o passar dos
anos. Desnecessário discorrer sobre esta triste situação- esta do conhecimento da população em geral, vez que
TODOS os dias a mídia transmite notícias de falta de atendimento devido,
de leitos, de médicos, de remédios e de mortes
desnecessárias
O Estado deve ser instado pelo
povo para realmente respeitar a
determinativa Constitucional (art. 196):
"A Saúde é Direito de todos e DEVER
do Estado...
Mirna Cavalcanti de Albuquerque Rio
de Janeiro, 06 de Fevereiro de 2013
Santa Maria e a Guerra do Vietnã
Milton Pires
Em 1967 a Guerra do Vietnam envolvia um contingente cada vez maior de soldados americanos. A necessidade de atendimento aos feridos graves, entre eles as vítimas de queimadura e intoxicação, demandavam recursos materiais e humanos cada vez mais complexos. Os EUA construíram, na cidade litorânea de Da Nang, um hospital militar com o objetivo de atender suas tropas.
Nesta época não existia propriamente a especialidade hoje conhecida como Terapia Intensiva. Foi com espanto que os médicos militares começaram a atender um número cada vez maior de pacientes vítimas de intoxicação em função do chamado “agente laranja” e outras substâncias químicas utilizadas para desfolhamento de florestas e localização dos esconderijos inimigos. As pessoas apresentavam como quadro clínico uma síndrome que envolvia, entre outros sinais e sintomas, acúmulo de líquidos nos pulmões e diminuição da capacidade de oxigenação do sangue.
Essa nova doença ficou conhecida como “Pulmão de Da Nang” e hoje, nós intensivistas, a chamamos de SARA – Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto.
Termino aqui; como em toda situação de guerra, a primeira vítima de Santa Maria, assim como em Da Nang, foi a verdade – jamais esqueçam isto !
Fiz esta breve introdução para dizer que é isto que pode acontecer com os
sobreviventes do incêndio de Santa Maria. Mais; gostaria que ficasse muito
claro a todos que este tipo de “coisa” não pode ser atendido (numa situação que envolve um
número de pacientes tão grandes) com segurança em nenhuma capital
brasileira. Isto ocorre porque simplesmente não há unidades de terapia
intensiva em número suficiente nem respiradores artificiais para atender
tanta gente.
Em meio a tanto desespero não há um só político ou autoridade da saúde
com honestidade suficiente para dizer aquilo que escrevi acima. Há pelo
menos quatro décadas assistimos gerações e mais gerações de secretários e
ministros da saúde insistindo na idéia de medicina comunitária e prevenção.
Pois bem, pergunto agora: o que nós, médicos
intensivistas, devemos fazer com as pessoas que sobreviveram ao
incêndio de Santa Maria? Encaminhá-las para postos de saúde? Não se
constrói um hospital público em Porto Alegre desde 1970! Pelo contrário;
vários foram à falência e fecharam!
Que o Brasil inteiro saiba
que é MENTIRA a afirmação das autoridades de que Porto Alegre tem leitos
de UTI suficientes para atender toda essa gente! A secretaria estadual
da saúde pode, se necessário, comprar leitos na rede privada mas mesmo
assim é muita sorte haver algum disponível. Com relação aos responsáveis
por esta tragédia, deixo aqui a minha opinião – foi o poder público
corrupto, negligente e incompetente, quem MATOU todos estes jovens!
É esse tipo de gente que
quer entupir o Brasil com médicos de
Cuba e do Paraguai, que manda médicos para o Haiti e que insiste em
saúde “comunitária”, que agora aparece na televisão chorando e abraçando os pais das pessoas que
morreram.
Milton Pires
Médico Intensivista
Porto Alegre – RS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário